Transtorno-Obsessivo-Compulsivo

A minha história com o Transtorno Obsessivo Compulsivo

Antes de começar, eu gostaria de compartilhar que esse não é um conteúdo elaborado por uma pessoa da área da saúde, é a minha história. Se você deseja obter mais informações sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo, procure por uma pessoa especialista (psiquiatra ou psicólogo). Cuide-se. 

Eu costumava ser uma criança ansiosa, mas pouco se falava sobre ansiedade na “minha época”. 

Os primeiros sinais do Transtorno Obsessivo Compulsivo, também conhecido como TOC, surgiram ainda na minha infância. 

Tudo começou com uma vontade incontrolável de encostar os braços na parede. Primeiro, o braço esquerdo. Em seguida, o direito. Até entrar em um looping e não conseguir parar de fazer isso – caso não, algo de ruim aconteceria com uma pessoa próxima. 

Em seguida, criei uma obsessão em manter as minhas mãos limpas. Eu lavava uma, duas, três, quatro e quantas vezes fossem necessárias para deixar de sentir uma angústia dentro de mim. Pelo menos, foi assim até a minha mãe perceber, o que tornou a tarefa ainda mais difícil. 

Eu costumava criar estratégias. Abrir pouco a torneira, revezar com o banheiro e a pia da cozinha. Tudo para manter o que hoje entendo como “rituais”. 

Por um tempo, ainda sem o diagnóstico, eu precisei “lidar” com essas “manias” (era o que as pessoas pensavam, como se eu tivesse algum tipo de controle para tudo o que estava acontecendo). 

A pior parte, não que exista uma parte boa, era lidar com os pensamentos intrusivos e, na maioria das vezes, negativos que, aqui entre nós, me davam medo.

Por um bom tempo, eu me questionei se era uma criança como as outras ao meu redor. Ao brincar com algumas amigas, eu tentava explicar o que eu estava sentindo, mas hoje eu percebo a complexidade de passar por isso aos 8 anos.

De alguma forma, eu acabei melhorando. As coisas começaram a fazer sentido novamente, ainda que com a minha ansiedade. E foi assim até os meus quinze anos. 

O diagnóstico do Transtorno Obsessivo Compulsivo

Pula para os quinze anos.

Eu estava no ensino médio, estudando em uma escola em Ribeirão Pires, e tinha acabado de passar em um curso técnico na ETEC de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Aqui é basicamente um resumo, talvez um papo para outra hora, mas sempre tive muitos dilemas na minha infância e adolescência – que vão desde sofrer bullying até querer fazer parte de espaços que não me pertenciam. 

Porém, todavia, entretanto, aos quinze, de alguma forma, as coisas pareciam começar a caminhar para construção de um “futuro”.

O curso técnico era interessante, as pessoas eram legais, mas de uma certa forma eu já não estava me sentindo bem. A ansiedade já se fazia presente, seja por querer dar conta de tudo ou até pela rotina (acordar cedo, pegar ônibus, sair da escola, pegar um trem, trólebus e por aí vai).

Até que um dia, eu cheguei em casa e fui deitar. A minha sobrinha, hoje de 17 anos, estava um pouco doente. O nosso quarto era compartilhado, a minha cama ficava próximo à parede, enquanto a dela no meio, ao meu lado. 

Lembro que comecei a entrar em um processo de limpeza profunda. Trocando as roupas, tomando banho, lavando as mãos. Tudo com medo de pegar a virose. Acontece que a sensação de “limpeza concluída” nunca chegava. 

Eu passei a noite inteira lavando as minhas mãos. Eu não conseguia parar, até que me automediquei (sem o consentimento dos meus pais). Fui procurar um remédio de enjoo que costumava me dar sono. Foi só depois disso que eu consegui dormir. 

Na minha cabeça, o dia seguinte seria diferente, mas as coisas só pioraram. Além do excesso de limpeza, eu comecei a “marcar” algumas roupas. Ou seja, se meu dia foi ruim e eu usei a camiseta laranja, eu não usaria mais a camiseta laranja. 

Nessa época, lembro de doar roupas novas, tudo por medo de usá-las. 

Chegou um momento em que eu não estava mais vivendo. 

Eu não podia escrever uma única vez. Eu precisava apagar e escrever a mesma palavra três vezes. Eu não sentava do lado direito do ônibus, apenas do esquerdo. Eu não passava por determinado local do prédio do curso técnico, eu andava mais por isso. Eu já não usava minhas roupas. Eu já não conseguia pegar o trem, o ônibus e o trólebus sem sofrimento de contrair alguma doença, virose ou algo do tipo. 

Para ser sincera, eu estava cansada de tudo isso. Era exaustivo e tampouco explicativo. 

Até que, por coisas da vida, encontrei um vídeo falando sobre Transtorno Obsessivo Compulsivo e fui procurar mais informações. Na época, felizmente, eu tive a consciência de que eu precisava de ajuda e pedi para os meus pais uma consulta com uma psicóloga. 

Na primeira vez, meus pais não entenderam. O desconforto era nítido. Até que eu piorei, comecei a entrar em um quadro depressivo e me automedicar (acabando com uma caixa de remédios de enjoo – olha o perigo). 

Quando falamos sobre transtornos, eu tenho a impressão de que são invisíveis e, às vezes, as pessoas não compreendem o que estamos sentindo. Sinto que para os meus pais esse pedido de ajuda foi muito marcante, quebrando até alguns conceitos mal elaborados sobre a saúde da mente. 

Eu comecei a fazer terapia e iniciei o tratamento medicamentoso e até hoje eu sigo com ele. 

Confesso que contar essa história me faz lembrar de algumas situações inusitadas – como quando eu tive a ideia de colocar uma luva com creme nas mãos como resposta às lavagens excessivas. 

Lembro de quando higienizei tanto o meu celular que ele parou de funcionar. 

Lembro de quando não conseguia mais escrever por medo de apagar e escrever novamente por inúmeras vezes.

Lembro de quando as coisas foram começando a perder o sentido. 

Lembro de quando associei tudo isso à falta de fé e recorri à Igreja com um pedido de socorro. 

São muitas lembranças. Muitos momentos. Algumas pessoas não compreenderam, outras me abraçaram e me ajudaram com o possível. 

Do meu lado, do lado paciente, eu sou extremamente grata à minha primeira terapeuta, que me salvou de inúmeras formas. Ela me ajudou a encontrar o caminho de volta e de uma forma especial. 

Agradeço aos profissionais de saúde que me apoiaram e me ajudaram a compreender tudo o que estava acontecendo. 

Agradeço especialmente aos meus pais que aprenderam comigo o que é viver a jornada em busca de sanidade. 

O Transtorno Obsessivo Compulsivo não tem cura, mas tem tratamento. E, graças ao tratamento, estou aqui hoje. 

Se você se identifica de alguma forma com o que escrevi aqui, busque ajuda. O caminho é muito melhor quando contamos com apoio. 

Cuide-se. 

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