Há um tempo venho refletindo sobre o que é o autocuidado. No sentido etimológico, autocuidado é um conjunto de ações ou procedimentos de cada indivíduo destinado à manutenção da vida, da saúde e do bem-estar.
No entanto, ao pesquisar autocuidado nas principais redes sociais encontramos uma série de publicações que associam o autocuidado a rotinas de skincare, cuidados com a pele e estética de um modo geral.
Não estou dizendo que não sejam variações do autocuidado, mas convém refletir além, ainda mais quando falamos sobre a saúde da mente (principalmente para nós, mulheres).
Para se ter uma ideia, de acordo com o Relatório Esgotadas, produzido pela Think Olga, 7 em cada 10 pessoas diagnosticadas com depressão e ansiedade eram mulheres. Isso sem considerar os recortes sociais.
Ao falarmos, por exemplo, sobre a insatisfação financeira 61% das mulheres brancas se consideram satisfeitas, enquanto apenas 46% das mulheres pretas e pardas compartilharam desse sentimento.
Autocuidado de verdade
Certo dia estava navegando pelo Instagram, quando vi um stories da Dani Arrais, jornalista e sócia-fundadora da Contente, compartilhando um livro que me chamou a atenção: “Autocuidado de verdade: Um programa transformador para redefinir o bem-estar (sem cristais, purificações ou banhos de espuma)”.
O exemplar despertou a minha curiosidade e acabei comprando. O que eu não sabia era que esse livro seria o escolhido para o Clube do Livro da Comunidade da Contente, a qual fiz parte por um tempo.
A leitura é leve e bem próxima. Pooja Lakshmin, psiquiatra e autora do livro, nos convida a enxergar o autocuidado como um processo interno, de autorreflexão, que envolve a tomada de decisões difíceis mas que, quando praticadas, podem transformar nossos relacionamentos, o nosso ambiente de trabalho é até os sistemas que nos oprimem.
“O impacto do autocuidado de verdade não é apenas no nível individual – ele tem um efeito cascata em nossos relacionamentos, nas comunidades de que fazemos parte, em nossos ambientes de trabalho e na sociedade de modo geral”.
Trecho do livro Autocuidado de verdade
O livro
O livro é dividido em partes, sendo:
- Parte I: A tirania do falso autocuidado
- Calorias vazias (o falso autocuidado não nos salvou)
- Por que é difícil resistir à sedução (os motivos que nos levam a recorrer ao falso autocuidado)
- É um jogo de cartas marcadas (O problema não é você?)
- Parte II: o autocuidado de verdade é um trabalho interno
- Recuperando as rédeas (os quatro princípios do autocuidado de verdade)
- Autocuidado de verdade exige limites (Superando a culpa)
- Autocuidado de verdade significa tratar a si mesma com compaixão (permissão para ser suficientemente boa)
- Autocuidado de verdade aproxima você de si mesma (desenvolvendo sua bússola do autocuidado de verdade)
- Autocuidado de verdade é uma afirmação de poder (Reivindicando o que é seu e reformulando o sistema)
- Conclusão
Com aproximadamente 300 páginas, é difícil de dizer qual o meu trecho favorito, mas gostaria de compartilhar alguns recortes.
“Se o autocuidado de verdade não é um truque de produtividade ou a última moda, então o que é? De novo, o autocuidado de verdade não é um substantivo, é um verbo – um processo interno contínuo que nos guia rumo a um bem-estar emocional profundo e que reimagina como interagimos com os outros”.
“O autocuidado é mais que uma solução autêntica e sustentável: ele é autodeterminado. Envolve o processo interno de definir limites, de aprender a se tratar com compaixão, de fazer escolhas que se aproximem a pessoa de si mesma e de levar uma vida alinhada com os próprios valores”.
“As pessoas no topo respondem à pressão da base, porém as pessoas na base não têm tempo nem energia mental para lutar, mudar a maneira como interagem ou questionar por que as coisas são dessa forma. É assim que sistemas opressivos funcionam, e é por isso que eles continuam em funcionamento. Precisamos que as pessoas na base (mulheres, pessoas racializadas, pessoas queer e minorias) subam e façam mudanças quando chegarem ao poder. O autocuidado tem a ver exatamente com isso”.
“Quando prestamos atenção nos frutos que já temos na vida – sejam pequenos prazeres, como uma xícara de café pela manhã, ou conquistas maiores como uma promoção no trabalho ou uma família saudável –, nós nos envolvemos ativamente com o que é real e verdadeiro em nosso mundo. É a realidade que, para todas nós, o bom e o ruim andam juntos, não importa o quão esgotadas estamos no momento”.
“Embora comentários como “tudo acontece por um motivo” ou “podia ter sido pior” em geral sejam acompanhados de boas intenções, eles não ajudam e ainda ignoram a realidade da perda, do trauma e das lutas reais de qualquer pessoa que não ocupa posições privilegiadas na sociedade. A positividade tóxica é a necessidade esmagadora de deixar de lado as dificuldades, dores e perdas que você ou outros experimentaram e resumir tudo a uma ideia bonitinha”.
Onde comprar?
O livro foi publicado pela Editora Fontanar e você pode encontrá-lo no site da Companhia das Letras por R$59,90 à vista ou na Amazon por R$48,02. O exemplar também está disponível para Kindle.
*Valores com base no dia 20 de abril de 2024.
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